sábado, julho 30, 2005

A tua presença sempre ausente

Passeias em mim, mesmo ausente...
Ás vezes receio que te sintas sozinho e que esse país imenso te devore...
Queria tanto dar-te a mão sempre que a ansiedade te assolasse, mas estou aqui deste lado do mundo, somente um pouco mais distante que o costume...
A distância é um caminho que escolhemos, nunca nos foi permitido um espaço... Talvez nunca houvesse outro lugar entre nós que não fosse o dos sonhos... Esse ninguém nos rouba, meu amor!... Estás tão longe... Mas é bom que eu me atravesse nessa distância mais absoluta e compreenda que viver é também um dia poder ser mais solta do que a lua...

Para um Dom Quixote que eclodiu das nuvens do meu quarto...

Sabes, é possível que te passe na cabeça que brinquei contigo... Acho que a nossa mente dá lugar a todos os fantasmas que criamos... Acho que te deixei com uma ideia completamente errada de quem eu era... Chegaste a chamar-me louca, mas também disseste que eu era imensa... Disseste que eu parecia um poema... Deixaste em mim uma lembrança bonita e a certeza que me cruzei com um ser humano belíssimo que ainda hoje me faz pensar se deveria ter voltado atrás e arriscar o que me pedias...
Não o fiz...
Sei que me odeias por isso, sei que te deve inflamar a raiva de cada vez que notas que eu voltei a pisar o teu mundo e é por isso que quando passo por perto não deixo marcas... Se as deixasse correria o risco de as ver apagadas, pois tu não deves deixar que eu me volte a aproximar... Fazes bem! Era esse o melhor caminho...
Intriga-me sempre a lembrança carregada de simbolismo... A coincidência de falares a mesma linguagem do meu mágico... A mesma forma de sonhar... A mesma forma de tocar nas palavras... E isso assustou-me... Não podia repetir a insanidade... Eu estava quase morta quando me achaste, mas tu tinhas cegado e não me vias quebrada...
Hoje detestas-me... Sinto isso e não te recrimino... Mereço o teu desprezo... Mereço o que quer que seja que me destines...
Mas acredita... Nunca foi minha intenção ensaiar a despedida... Mas o desencanto era urgente, ou tu nunca verias...
Para ti, a lua... Sempre!!! (É o lugar onde guardo as pessoas bonitas que não esqueço...)

quinta-feira, julho 28, 2005

Depois da tempestade vem a bonança... Ou quase...

A tempestade passou, tal como eu previra...
É claro que ainda escondo as lágrimas, é claro que me doeu ouvir-te de manhã e abraçar-te na minha voz serena e meiga que escondia um terramoto de feridas, a memória ainda quente da noite que passara em claro, lutando contra a dor das tuas palavras ressoando ferozes no meu silêncio...
Mas tudo passa e de manhã o dia surgiu-me como um novo desafio, a rotina facilitou-me os passos e aceitei com bonomia a loucura que padeço ao querer amar-te... Estou louca, existem tantos entraves, se o meu amor alguma vez tomasse lugar nas nossas vidas seria um colapso instantâneo que em pouco tempo nos levaria ao precipício...
Mas posso sempre amar-te, amar-te com um profundo amor fraternal, sem sombra de desejo, sem lâminas estranhas que nos degolariam os pulsos e nos lançariam para longe da paz que tanto merecemos... Posso amar-te... Posso estar perto sem sonhar com o teu corpo no meu, perto como as tuas irmãs estão de ti, perto como a tua mãe está, perto como se nada do que dissemos e fizemos tivesse um dia existido nas nossas vidas...
Achas-te capaz de me aceitar assim?...

quarta-feira, julho 27, 2005

Escrevi-te estas palavras(anónimas)no teu blog... Nem deste conta que era eu a autora das palavras que classificaste como "apaixonantes"! (Para D.Q.)

Os dias doem mais quando contados um a um... Ninguém pode esperar mais por um olhar que se perdeu... Mas há memórias que persistem... Há memórias que não se encerram no silêncio... Existem idílios secretos para onde caminhamos, janelas de oportunidade que rejeitamos sem sabermos se seria essa a nossa ocasião de nos evadirmos das grades que nos dominavam os sentidos... Há escolhas que não fazemos, mas que se fazem sozinhas, sabendo que nada teriamos para dar... Há mundos que só podemos visitar de longe, admirar como florescem, como sonham, como acontecem... Há mundos imensos que sempre nos hão-de apaixonar, embora sabendo que não os devemos atravessar... Há mundos que não esquecemos, apesar de simularmos o silêncio...Para ti, sempre a lua e um sorriso cativo nesse rosto de menino...

terça-feira, julho 26, 2005

Martirizar-me por coisas que já passaram é uma atitude estúpida

Há um ano estaria eu a tocar para ti, enquanto sorrias da forma que só tu sabes. E como a felicidade é sempre um sorriso que chora, irias partir. Voltarias amanhã. Amar-nos-íamos como nunca. Um beijo era qualquer coisa de tão forte que se o dissesse não faria sentido. Não me lembro bem das palavras, mas elas não interessavam assim tanto.
E depois quem teve de partir fui eu.

Ainda hoje me pergunto que merda de pensamento possa ter feito sentido na minha cabeça para não te pedir para voltares para mim.

quinta-feira, julho 14, 2005

...

«Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
Nos meus sonhos de prazer…
De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
Pelo teu nome…

Dizem —e eu não protesto—
Que seja qual for
o meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!

Dizem que eu me embriago toda em cores
Para te esquecer…
E que de noite pelos corredores
Quando vou passando para te ir buscar,
Levo risos de louca, no olhar!

Não entendem dos meus amores contigo—
Não entendem deste luar de beijos…
—Há quem lhe chame a tara perversa,
Dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal—
O meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…

E ninguém sabe que é de ti que eu vivo…
Que és tu que doiras ainda,
O meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má, a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos—
Não faltes aos meus apelos dolorosos—
Adormenta esta dor que me domina!»

(Judith Teixeira)

Há Noites

«Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas
..................................................................

Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que são só iguais
À mais longínqua onda do teu canto.

Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo...»

(Natália Correia)

Isto

«Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!»

(Fernando Pessoa)

Pretextos para fugir do real

«A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da
provocação. É assim que te faço arder triunfalmente
onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)
Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços
*
Experimento um grito
Contra o teu silêncio
Experimento um silêncio
Entro e saio
De mãos pálidas nos bolsos»

(Poesias Completas, Alexandre O'Neill)

quarta-feira, julho 13, 2005

Mais um pouco de mim no teu mundo

Hoje pousou em frente a tua casa uma margarida...

Há mais um pedaço meu no teu mundo...

Irá sempre haver muito de ti no meu mundo...

Cada lugar teu

«Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar

Pensa em mim protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar

Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei

Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só

Eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar»

(Mafalda Veiga)

segunda-feira, julho 11, 2005

Não me deixes mais sozinha!

Hoje sonhei contigo...
Sonho que acordou comigo de outro sonho, pois já não eras tu no sonho, o encanto havia-se quebrado...
Ardias em febre, sabia-te doente, por me fazeres sofrer tanto... Beijavas-me as mãos... Os teus lábios em chamas enquanto me sussurravas: Não tenhas medo, Papoilinha... Sou eu, não tenhas medo!... Desculpa-me!... Desculpa-me!... O meu corpo tremia, encolhido de encontro a uma parede que eu não pudera atravessar para fugir-te... Olhava-te a medo enquanto te lia nos olhos toda a ternura que falavas... Olhava-te nos olhos a voz de sempre, a tua voz imersa na melodia que me entoavas todas as noites, a voz que soava tímida e quebrada era no sonho abafada pelos lábios febris que procuravam acalmar-me...
Sucumbi a esse encontro, tu sabia-o e antes que eu caisse, deitaste-me, quase inerte numa cama, e em silêncio esboçaste a partida de encontro à porta do nosso quarto... Antes de a atravessares chamei-te numa voz débil e enjaulada e implorei-te: Não me deixes mais sozinha!

domingo, julho 10, 2005

Rosa

«Hoje o céu está mais azul,
Eu sinto...
Fecho os olhos.
Mesmo assim eu sinto...
O meu corpo estremecer.
Não consigo adormecer.

Ah, nem o tempo vai chegar
Para dizer o quanto eu sinto
Você longe de mim.
É uma espécie de dor...

Hoje o céu está mais azul
Eu sinto...
Olho à volta
Mesmo assim
Eu sinto
Que este amor vai acabar
E a saudade vai voltar...

Ah, nem o tempo vai chegar
P’ra dizer o quanto eu sinto

Você longe de mim
É uma espécie de dor

Já não sei o que esperar

Dessa vida fugidia...
Não sei como explicar
Mas é mesmo assim o Amor.»

(Rosa, Rodrigo Leão)

Menino da Lua...

Sinto-me só...
Mas esta solidão não é daquelas que escolhemos, é daquelas que nos impõem, quando há nossa volta nos rodeiam abraços desprovidos de entendimento e os diálogos que travamos se transformam em monólogos inúteis cujo eco desfigura a beleza contida nas palavras que escolhemos...
Estou só, não porque escolhi este caminho, mas porque desde cedo se tornou claro que a singularidade se paga a um preço demasiado alto...
Eu gosto de habitar nas cores, nas tintas e sobretudo nas palavras, apego-me a elas como a um amante desejado, passeio-me, lenta nos seus sons, abraços, pausas e compassos...
Caminho nas palavras, as únicas capazes de trazer alguém até junto de mim... Transito entre fábulas e sonhos... E há sempre aquele Menino da Lua que me acompanha, meio perdido, enigmático e intenso... Há sempre a sua voz distante, a melodia dos seus sonhos, a magia dos seus dedos desenhando a minha vida... Mas ele está cada vez mais fraco e cansado e ameaça partir... E tento não largar a sua mão, mas olho para mim e estou lavada em sangue, olho para o caminho percorrido e vejo que há um rasto de vida que fui perdendo e afinal quem ameaça sucumbir na viagem sou eu... Sou eu que me perco em vida pelas feridas que me rasgam...
À noite tento esconder-me da Lua que envolve o meu Menino, tenho de o fazer, senão hei-de prosseguir arrastando-me em sangue, pelo caminho, até morrer...

A viagem ao passado...

Quando olho para ti vejo-o a ele espelhado nas sombras... Olho para ti e sei que a imagem que mantive até hoje não existe, mas ainda assim insisto em olhar e vejo-o a ele nas sombras...
Não consigo traçar-te outra face e quando pinto, estás em cada linha que o pincel arrasta...
Ontem, enquanto pintava, criei para nós uma bola de cristal, pensei que talvez assim criasse o portal mágico que precisaríamos para vencermos o abismo entre os nossos universos distantes... Olhei para ela atenta, estava certa que a tua imagem surgiria nas suas sombras... Olhei para ela e tentei inundar o teu quarto com as minhas mãos... Mas só hei-de estar à tua porta, só hei-de viajar com a imagem da tua casa distante... E eu naquele carro a vigiar-te, dispersa na paisagem, gravando a minha passagem com flores que te vou deixando pelo caminho... O meu olhar perdido... A tua casa ao longe... A varanda do teu quarto...
Olhei a minha pequena bola de cristal, e tu não vinhas, e eu perdida pelas avenidas do passado, iniciei uma vez mais a terrível viagem... As memórias do tempo em que me enganavas, as longas esperas naquele banco à beira-mar... A cegueira e a surdez desta doença que me absorvia e a tua indiferença ao avistares a minha vida assim perdida...
Peço-te, resgata-me a esta viagem... Faz-me crer que não vivi morrendo nessa miragem!!!

sábado, julho 09, 2005

Reflexões guardadas da noite passada

Ontem confessei-me assustada... Julgo que não percebeste a lucidez que me assaltava aquela hora, quando após a explosão reparei que à nossa volta havia apenas nuvens escuras carregadas de medo...
Assustam-me os momentos de lucidez, nada vejo de ti, peço-te sempre um abraço, mas se o tivesse comigo, verias-me fugir como um pássaro assustado... Como posso querer-te tanto e viver sabendo que te temo e que não posso aproximar-me tanto???... Como posso querer-te perto e fingir que nada penso do passado do teu manto?...
Odeio os momentos da minha lucidez, ajuda-me a quebrá-los!!!

quinta-feira, julho 07, 2005

"Como quem escreve com sentimentos"

«Estou sujeito ao tempo sou este momento
perguntam-me quem fui e permaneço mudo
o tempo poisa-me nos ombros em relento
partiu no vento essa mulher e perdi tudo


Já não virá ninguém por muito que vier
em vão esperei a rosa da minha roseira
quando um pássaro sai dos olhos da mulher
é porque ela é de longe e não da nossa beira


Resta-me um sonho desconexo e desconforme
Na haste da camélia que o vento quebrou
jamais a vida branca como ela dorme
Eu era essa camélia e nunca mais o sou


A minha vida é hoje um sítio de silêncio
a própria dor se estreme é dor emudecida
que não me traga cá notícias nenhum núncio
porque o silêncio é o sinónimo da vida


O mundo para além dessa mulher sobrava
tudo vida vulgar tumultuária e cega
o brilho do olhar equilibrava a chuva
nas suas costas hoje toda a luz se apaga


Mulher que um golpe de ar me pôde arrebatar.
enfim não existia ou só ela existia
Asas que ela tivesse deixou-as queimar
e tê-la-á levado estranha ventania


Daqueles traços fisionómicos de pedra
não quero já ouvir a voz que às vezes vem
na calma destacada por um cão que ladra
Não há ninguém perto de mim sinto-me bem


Cada casa que roço é escura como um poço
se sou alguma coisa sou-o sem saber
sossego solitário sem mistério isso
talvez tivesse sido o que sempre quis ser


As flores vinham nela e era primavera
mas tanto a nomeei e tanto repeti
erros numa estratégia imprópria para ela
tamanho amor expus que cedo a consumi


A noite quando ao fim descer decerto há-de
ser certa solução. Foi há muito a infância
Ao tempo o que tu tens tu bem o sabes cede
estendo as mãos talvez te fique a inocência


A vida é uma coisa a que me habituei
adeus susto e absurdo e sobressalto e espanto
A infância é uma insignificância eu sei
e apenas por a ter perdido a amamos tanto


Estou sozinho e então converso com a noite
das palavras que nos subjugam nos submetem
As coisas passam e em vez delas é aceite
o nosso sistema de signos onde as metem


Esta minha existência assim crepuscular
devida àquela que é rastos destroços restos
acusa hoje alguma intriga consular
de quem não tem cabeça a comandar os gestos


Foi uma rosa rubra a autora desta obra
aberta e arrogante grácil flor do instante
que triunfante não há coisa que não abra
para ferir quem a viu e morrer de repente


E noite sou e sonho e dor e desespero
mero ser sórdido e ardido e encardido
mas já não tarda a abrir-se na manhã que espero
um arco com vitrais aos vendavais vedado


E embora a minha fome tenha o nome dela
e da água bebida na face passada
não peço nada à vida que a vida era ela
e que sei eu da vida sei menos que nada»

(Ruy Belo)

«Quem amo não existe»

«Quem amo não existe» (Fernando Pessoa)
Duvido que estas palavras alguma vez tenham revestido a realidade da mesma forma que aconteceu comigo...
«Minha vida fecha-se como um leque» (Fernando Pessoa)
Não consigo encontrar uma saída... Insisto em acreditar numa fantasia, recuso-me a acordar.
Há sangue no meu peito, estilhaços de dor que não posso mais apagar... Afundo-me... Já me atirei tantas vezes daquela ponte, e julgas que alguém me deu a mão?... O Douro abate-se sobre o meu leito, a sua voz embala-me, e os seus braços líquidos esboçam um abraço... Atiro-me, mas só a mente, o corpo hesita... Acobarda-se sempre... Acredita sempre que ainda pode ser feliz...
Mas a espera é longa e a impaciência é inimiga...
«Quem amo não existe»