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carta aberta aos meus demónios

venho deste modo protestar contra esta saudade emergente, de não te ver, mas também de me saber fraco o bastante para não viver quando não estás. e como amigos também não sei bem o que sejam, arrasto-me aqui pelo quarto, sem ter coragem para me deitar na cama e hibernar. há tantas coisas sobre as quais não posso verter uma palavra, e para onde quer que me vire não encontro gente a quem possa confessar, confessar-me, confessar os outros. não encontro ninguém onde eu possa existir e insistir nessa obcessão. eu preciso de dizer. e a literatura que é, senão uma confissão lamechas dos nossos demónios, dos nossos tormentos? por isso, demónios, deixem-me em paz. nem precisa de ser de uma vez por todas. bastava ser só desta vez, que esta dificuldade em respirar está a deixar-me preocupado. entretanto, vou escrevendo como quem estivesse a fazer o seu testamento: deixo uns poemas àquela, umas canções à outra, o amor é capaz de se extinguir, mas teria de ser para ti, antes ou depois da minha morte, sempre. deixo também uns abraços por aí, uns versos atirados ao ar em jeito de chalaça para outra gente, e uns quantos olhares cumplices, uns beijos mais ou menos perdidos, com sétimas intenções, e umas lágrimas de vodka partilhadas para alguns poucos resistentes. aos outros, deixo-os, apenas. e já vão com sorte: é um presente precioso. mas quê? testamento? tenho lá eu alguma coisa para deixar a alguém. deixo só aqui firmada, esta carta aberta aos meus demónios, que é como quem diz, carta de suicídio, para quando me decidir a ser cobarde por inteiro.

A saudade sabe devorar-nos, não é querido Rui?... Eu sei também... A tua Sarinha anda ausente?... É terrível a ausência da pessoa que amamos, eu sei disso... Sei mesmo, Rui...
Mas sabes, esquece essas vozes e lembra-te que há primavera lá fora e hoje duas pequenas papoilinhas fizeram-me sorrir e as coisas pequenas, são ao fim e ao cabo, imensamente importantes... Lembra-te disso...
Ah e olha meu querido, embora deteste ler-te e sentir a tua tristeza, escreves cada vez mais de uma forma tão intensa que, confesso, desta vez comoveste-me até às lágrimas...
Um beijinho (e mais uma vez desculpa-me o comentário parvo que fiz da última vez, acredita que a coisa que mais evito fazer na minha vida é ofender alguém, sobretudo quando esse alguém é alguém que admiro...)

por partes:

não me ofendeste. a sério que não. não tenhas esse peso. é preciso bastante mais para me ofender. principalmente ter intenção, e eu sei que não tiveste.

quanto à sara falamos depois. ok?

primavera por aqui não parece haver muita - anda intermitente, como eu. pareço um romance o eça, caramba, sempre com o tempo a acompanhar-me a disposição.

não escrevo nada de forma intensa. e desculpa ter-te levado às lágrimas.

beijo.

Oh tonto, agora parecemos dois anormais a pedir desculpa por tudo e por nada... Escreves bem, miúdo, por isso me emocinaste... também porque me identifiquei... só nao gostei do titulo, demasiado embebido em trevas, ha palavras q nao evoco sequer... mas isso sou eu...
e sabes, rapaz, quem dava um romance do eça era eu :o/

Beijinho

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