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A viagem ao passado...

Quando olho para ti vejo-o a ele espelhado nas sombras... Olho para ti e sei que a imagem que mantive até hoje não existe, mas ainda assim insisto em olhar e vejo-o a ele nas sombras...
Não consigo traçar-te outra face e quando pinto, estás em cada linha que o pincel arrasta...
Ontem, enquanto pintava, criei para nós uma bola de cristal, pensei que talvez assim criasse o portal mágico que precisaríamos para vencermos o abismo entre os nossos universos distantes... Olhei para ela atenta, estava certa que a tua imagem surgiria nas suas sombras... Olhei para ela e tentei inundar o teu quarto com as minhas mãos... Mas só hei-de estar à tua porta, só hei-de viajar com a imagem da tua casa distante... E eu naquele carro a vigiar-te, dispersa na paisagem, gravando a minha passagem com flores que te vou deixando pelo caminho... O meu olhar perdido... A tua casa ao longe... A varanda do teu quarto...
Olhei a minha pequena bola de cristal, e tu não vinhas, e eu perdida pelas avenidas do passado, iniciei uma vez mais a terrível viagem... As memórias do tempo em que me enganavas, as longas esperas naquele banco à beira-mar... A cegueira e a surdez desta doença que me absorvia e a tua indiferença ao avistares a minha vida assim perdida...
Peço-te, resgata-me a esta viagem... Faz-me crer que não vivi morrendo nessa miragem!!!