« Home | Sombras » | Estátua (Camilo Pessanha) » | A matéria das palavras (Ana Hatherly) » | Excesso (Pedro Barroso) » | Ensaio do Abandono » | Tarde das facas longas » | Eu vou partir, sabias?... » | Reflexões Sobre O Dia Da Independência » | Que fazer com o ódio? » | Estória possível sobre a criação da canção Lover, ... »

O Peso Da Vida

O mal é quando tentamos pesar a vida. É evidente que ela tem peso, mas tal não quer dizer que a possamos pesar. E a vida pesa. Pesa muito por vezes. Pesa mais do que aquilo que podemos aguentar. Mas ainda assim, é inútil pesá-la. É como tentar medir o universo. Supõe-se que seja infinito. Ninguém pode ter a certeza (como de todas as coisas especiais, nunca se tem a certeza, mas no fundo, sabe-se). Pensem no absurdo que seria medir o universo. Já está? Assim é com a vida. Ela expande-se, em todas as direcções, em fundo e em largo, e não tem fim, até terminar. Peço desculpa. Estou a confundir alguém por certo. Vou abrandar.

Os problemas só o são, quando temos a absurda ideia de tentar resolvê-los. Não notem em mim algum receio das acções. Mas sempre fui um adepto da passaividade, da espera. O Budismo ensinou-me que quem espera sentado na beira do rio, verá os seus inimigos serem arrastados na corrente. E enquanto eu não quis resolver os nossos problemas, estava tudo muito bem. Mas eu quis. E vi-os claramente em nós. Eu que sempre fui adepto da espera, que sempre achei que a violência só leva à violência (e continuo a achar), vi-me obrigado a agir de forma repentina e violenta (cá está a analogia!).

Toda a gente diz que sim, e eu sei-o. Mas tenho a necessidade de ter a certeza. Não me perguntes o porquê que eu não o sei. Acho que a carência dá cabo de mim. E então, toda a gente o consegue ver, menos eu. Toda a gente diz: Ela ama-te. Mas eu não o vejo. Mas sei-o. Juro. Por outro lado, começo a pensar (porque apesar de seres perfeita, tens aí alguns defeitos) que tu demonstras aos outros, e te esqueçes de demonstrar a mim. O que é estranho. E o pior é que podem ser as duas coisas. Tu não me mostras, e eu quero ainda mais demonstrações. Mas vou deixar-me disto. Estás quase a voltar. E eu quero ser feliz contigo. Vou deixar de lado idiotices como pesar a vida e tentar medir o nosso amor (que tal como o universo é infinito), e vivê-los, aos dois, que, ironicamente, é a coisa mais racional a fazer.