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Reflexões Sobre O Dia Da Independência

...é muito estranho para mim compreender a razão porque as memórias aparecem quando decidem aparecer...

Foi no dia 4 de Julho. Mentira. Foi uns dias antes. A mensagem (aquela mensagem que ainda doi, só de me lembrar que o toque do télemovel foi igual aos outros todos, e eu não pude pressentir o que vinha por aí), veio uns dias antes. Não me lembro bem as palavras certas. Lembro-me apenas que recusavas o meu beijo. E isso doeu-me como uma facada lentamente inflingida. Recusavas o beijo e recusavas o afecto. Recusavas tudo.
Mas ainda assim (como não te via há umas semanas) fiquei naquela estúpida esperança de que quando me visses mudarias de ideias, e manti-a, mesmo quando estava a avançar para ti, a sorrir, para disfarçar qualquer hemorragia interna, como sempre fiz. A fazer-me de forte, a ser estúpido, basicamente. Mas tu não mudaste. Disseste-me na cara "acabou", deste-me as razões, a + b = ab, como só aqueles que não estão apaixonados conseguem fazer. E eu fiquei parado. A sorrir. A disfarçar a sensação de que tudo me doía.
Era o dia da independência dos Estados Unidos da America; era a final do Euro 2004, Portugal - Grécia, grande espectativa. Lembrei-me de tudo isto. Do dia da independência porque nessa altura o Superunknown dos Soundgarden era presença assídua no meu discman, e uma das músicas que me "perfurava" mais era precisamente o "4th of July", e então arranjei logo trinta e uma mil analogias entre a canção e o que se passava na minha vida, quando agora vejo que a canção é mesmo irónica e sobre o dia da independência dos EUA. Era engraçado: eu também ganhara independência, e estava desfeito. Quando a independência vem com o vazio como anexo, é preferível não vir.
Lembrei-me da final do Euro 2004, porque tinha de apanhar o comboio para ir ver a final a casa de uns amigos. No final, Portugal perdeu. E, de certa forma, fiquei contente com a derrota. De outra forma, todos me perguntariam o porquê de tamanha nuvem por sobre a minha cabeça. Mas assim foi melhor. Eu não fingi. Eles sofreram pelo futebol. Eu sofri também. Por ti. E eles não estranharam o sofrimento.
Despedi-me de ti. Sempre cínico. Disfarçando o meu interior em ruínas. E lembro-me de seguirmos por sentidos opostos, não só metaforicamente, factualmente mesmo. E de eu olhar ainda umas vezes para trás, na esperança que viesses a correr, para os meus braços, sarar a ferida. Tu nem sequer olhaste para trás. Nem vieste a correr.
E mesmo assim eu não deixei de acreditar...