Eu vou partir, sabias?...
«Despeço-me de ti que não existes
em parte alguma deste mundo igual
a tantos outros. Os teus olhos tristes
pertencem-me, já sei, mas de que vale
captar o seu brilho se ninguém
conhece a voz da noite? É esse o mal
que ao ver-te me seduz- talvez um bem
maior que todos os prazeres da vida:
aceitar a memória do que vem
ter comigo nas horas em que a ferida
recomeça a sangrar. Por mais que tente
curá-la, não consigo: a dor sentida
parece mais liberta quando mente
deveras aqui dentro(...)
pra onde quer que estejas. É assim:
despeço-me de ti que não existes,
mas hás-de acompanhar-me até ao fim.»
(Fernando Pinto do Amaral)
em parte alguma deste mundo igual
a tantos outros. Os teus olhos tristes
pertencem-me, já sei, mas de que vale
captar o seu brilho se ninguém
conhece a voz da noite? É esse o mal
que ao ver-te me seduz- talvez um bem
maior que todos os prazeres da vida:
aceitar a memória do que vem
ter comigo nas horas em que a ferida
recomeça a sangrar. Por mais que tente
curá-la, não consigo: a dor sentida
parece mais liberta quando mente
deveras aqui dentro(...)
pra onde quer que estejas. É assim:
despeço-me de ti que não existes,
mas hás-de acompanhar-me até ao fim.»
(Fernando Pinto do Amaral)