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Que fazer com o ódio?

É certo que já havia lido algo sobre o assunto, mas nunca o achara verosímil. Achava até, que a inverosimilhança era total. Mas, pronto enganei-me. E não é tanto pelo facto de aqui estar, que me rói o espírito e a mente, porquanto aqui até nem se está mal, mas sim por me ter enganado, e por isso estar irremediavelmente fixado nas paredes da minha mente tortuosa. É que para mim, na vida, tudo era baseado nas minhas verdades absolutas, até ao momento presente. E quem é como eu era, sabe que ver uma das suas verdades absolutas desintegrar-se à sua frente, como um casulo que outrora era robusto, mas que de um momento para o outro, é varrido por uma rajada mais furiosa de vento, é doloroso.
Que vou ter de lidar com este engano, com este erro, até ao fim da minha vida, é já um dado consumado, mas o que realmente me assusta, é que o facto de aqui estar, não seja uma consequência do meu engano, e sim das verdades absolutas que ainda não se varreram, mas que estão por um fio agarradas.
O sítio onde estou parece-se com uma cidade verdadeira. A vida que finjo que vivo também. Este mundo, que embora não o sendo parece real, é gerado, única e simplesmente pela minha mente e pelas suas absolutas verdades e irrevogáveis certezas. É que aqui onde estou, tudo é como eu quero que seja, tudo é perfeito, no meu conceito de perfeição, obviamente. E foi exactamente neste ponto que eu descobri que nada disto é real. Tudo o que cheiro, vejo, saboreio, sinto, oiço e vivo, faz parte da minha prisão mental. E agora, intrigados, vocês indagam, E que mal tem isso, se tudo é perfeito, não existe problema nenhum em viveres aí. Mas é que quando eu penso, ainda que involuntariamente, que odeio uma pessoa, ela desaparece, como que magicamente. E isso é mau, indagam vocês. Pergunta à qual não sei responder, mas digo-vos, toda esta perfeição acaba por enlouquecer qualquer um, e este facto leva-me a perguntar o que acontecerá quando eu enlouquecer e começar a odiar tudo o que me rodeia, inclusive a mim mesmo.

10. 2003