« Home | A matéria das palavras (Ana Hatherly) » | Excesso (Pedro Barroso) » | Ensaio do Abandono » | Tarde das facas longas » | Eu vou partir, sabias?... » | Reflexões Sobre O Dia Da Independência » | Que fazer com o ódio? » | Estória possível sobre a criação da canção Lover, ... » | O Culminar Do Mal » | O Paciente »

Estátua (Camilo Pessanha)

«Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, - frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado:

Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.»