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O Paciente

O psicólogo olhou expectante para o paciente. Esperou uns instantes e perguntou:
- Houve algo na sua infância que o tenha marcado?
- Houve, sim, respondeu o paciente. E lembrou-se do Pai Natal sorridente, sorriso esse que se confundia entre a serenidade e o cinismo. O seu sorriso perturbava-o, pois prometia presentes que nunca chegavam e por isso o paciente passava horas, absorto, a olhá-lo.
- Houve, sim, repetiu o paciente. Houve uma bola de vidro, com a qual eu passava horas a brincar, enquanto criança.
- O que o fascinava nessa bola de vidro? Perguntou o psiquiatra.
- O que me fascinava (fez uma breve pausa, para tornar ainda maior a expectativa sobre o que ia dizer). O que me fascinava era a sensação de paz, de que, dentro da bola de vidro, tudo era perfeito, não havia mal.
- Sim, mas não se esqueça que mal e bem são só duas perspectivas diferentes sobre um mesmo ponto, são duas faces da mesma moeda.
- Assim é. Caso contrário não estaria eu preso nesta bola de vidro, na companhia de um Pai Natal sorridente, que agora sei cínico, disse o paciente resignando-se à sua nova condição.

07.10.2003