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O mar a conta-gotas

Por vezes ouvia soluçar o vento naquela margem. Vacilava nesses instantes, num desespero absoluto de sentir o que a vida lhe mostrava. E era o mar que levava no olhar que os hipnotizava. E eram os gritos e a raiva amordaçada que mordia o seu peito agora, naquele compasso lento, a conta-gotas. Era, afinal, o seu único ritmo, o único aprendido. O ritmo do mar a conta-gotas. O ritmo do mar nos olhos. Das ondas. O seu rosto acetinado rasgava-se ao vento e as ondas desprendiam-se dos lábios, esmagando-se num furacão de luzes girando sobre o sol até à queda triunfal. E era belo aquele cenário que se repetia desde a nascença. Mas os que nasciam eram cegos. Todos eles. Cegos. E o seu olhar era uma estrela.