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Saudade

A noite cambaleava pelos socalcos da saudade.
Gritei o teu nome. Gritei-o toda a noite. O medo estava presente. E os teus braços eram ausentes, mas no passado já me tinham cercado de carinho, na tua voz aconchegada ao meu peito, insistindo, como se eu fosse criança, no sono que me levaria de volta à eternidade. E era nos teus braços que eu remia todo este medo e voltava a adormecer, aninhada no teu corpo como uma criança.
Mas esta noite era a solidão que me abraçava. "Trago da minha avó esse legado/Soledade era o seu nome." A solidão que faz parte de mim, desta terra, deste olhar.
E estavas doente ontem. Estavas só. Tu também. E o teu adeus cravou-se na alma como um espinho que me matava na madrugada lenta.
Gritei o teu nome. Adormeci com os lábios ainda unidos nos teus. Mas era só o teu nome. Tu estavas noutro quarto. No teu. Sei que choravas. Sei que sangravas das mesmas feridas que eu calava.
E a noite a cambalear como um velho. E o teu nome nas paredes. E o teu corpo na cama. E as visões das lágrimas que corriam de ti. Afloravam todas no meu quarto. As lágrimas que escondes. As lágrimas desse amor que sempre sonhei viver. As lágrimas do coração que eu amei. Que ainda amo. Mas amar-te não podia ser o erro.
Amo-te. Ainda e não sei se sempre. Mas tu dizes que o tempo virá. Dizes que o tempo já vive aqui e me rouba de ti. Mas não veio ainda. Não veio. Mas eu insisto sempre. Não posso. Tu sabes, tu apenas. E nesta dor medonha, forço a distância e a ausência de ti. E aguardo o tempo. O tempo que leve todo este tempo ou que me entregue a um sono eterno.
O tempo virá, por ti e por mim. E um dia seremos livres.