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Diário de um "Antropólogo em Marte" (II)

Do meu discurso, da minha vida ninguém entende nada... Apenas o que construo com o disfarce deste invólucro comum que sempre fiz questão de ostentar como a minha única pele... Aterroriza-me a diferença, não me atreveria a divulgar mais do que a mediocridade do dia a dia onde actuo na discrição absoluta de uma vida demasiado comum...
Ninguém entende nada... Ninguém vê nada... As minhas lágrimas são infinitas, porém inócuas e invisíveis...
Eu amo... Amo ou amei demais... Amei pelas palavras e pelos gestos e mais tarde amei pelo corpo...
Será possível percebê-lo? Haveria alguma forma de contá-lo???
«Quem amo não existe» (Fernando Pessoa)
Privaram-me do homem que eu amava... Nunca (mais) o vi... Mataram-no e nem dei por isso, pois às vezes descobrimos em nós segredos que embatem com tal violência que nos deixam em pleno embotamento afectivo que nos limita as acções e o pensamento... Amei a mesma pessoa que o matou, porque eram ambos o mesmo ser, o assassino e a vítima, The Beauty and the Beast... Mas houve um luto que não fiz... Houve uma dor que não tive, porque tinha pressa em substituir o meu amor, porque não podia chorar por quem não existia... Por quem nunca tinha existido...
Mas, para mim, foi como se o tivessem matado, o homem que eu amava e por quem sempre tinha esperado... Foi como se o matasses... E eu amei-te tanto, ainda que ferida por tanto engano... A dor ainda é muita... E eu amei-te tanto... E ainda amo... Porém, «Minha vida fecha-se como um leque» (Fernando Pessoa)