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Excerto de "Lunário" (Al Berto)

«Antes de partires, Nému, talvez ainda não seja tarde para começares a regressar. Estou sozinho, ardo na memória das noites em que não te conhecia.(...)Aliso as tuas pálpebras durante as noites de vigia e sei que uma vida anterior à minha presença as feriu. No entanto, sinto que és capaz de olhar-me como se eu contemplasse o mar. De redto os dias acumulam-se uns sobre os outros, iguais, sob o negro esplendor do sol. E latejamos, além, onde nos perdemos para sempre.
As tuas mãos vestiram as minhas, fizeram-nas voar de sedução em sedução.(...)
Na boca reacendo uma navalha de lume para sufocar a solidão, e as palavras que já nada podem revelar, nem ajudar.
Mas se um dia voltares, Nému, acorda-me, como inesperadamente me acordaste uma noite. Não me deixes dormir mais, desperta-me e tudo se iluminará num gesto, num sorriso teu. Talvez não seja tarde ainda para começarmos a regressar um ao outro. Basta beber o mel que sempre bebemos no sexo um do outro, e de novo sentir o turbilhão de alegria que nos despertava a meio da noite para o amor.(...)
Regressa e oferece-te à preguiça triste de quem continua aqui vivo, sorvendo a espiral da sua própria ausência.
Regressa, peço-te, mesmo antes de partires. Regressa à voracidade do desejo, e à incendiada paixão dos nocturnos tigres...»