Felicidade (ou a canção do nada - em islandês: Njosnavelin. Os amigos inventados e a mulher ausente)
Aquilo que construí foi nada. Todos os dias a minha porção de alienação, para suportar uma dor não sei de quê. Doi-me tudo, doi-me o mundo. O café para conseguir estar vivo, o whisky para me manter em pé no momento de cair, a poesia para equilibrar a loucura e a solidão. Sentir o corpo enfraquecer e encolher-se e recolher-se na sua dor, aconchegando-se, enquanto a mente voa e se conversa sobre a importância do Checo na literatura moderna. Voamos já, por sobre tudo, o corpo dobrado sobre si, restringindo o mundo à sua dor. Já é de manhã e não dormimos e bebemos mais café, e o whisky e tudo o mais já chegou ao fim, e mesmo que não tivesse chegado não beberiamos mais porque a mim ardem-me os lábios por causa do cieiro e a ti a cabeça anda à roda. Olhar o dia amanhecido e o silêncio entrecortado pelo ruído periódico do comboio. Vaguear pela cidade sozinho, com duas garrafas quase vazias, mas que não ouse deitar fora pela mínima quantidade que ainda têm dentro. Duas garrafas quase vazias, eu quase vazio. Tudo, um contentor vazio, tão cheio de vazio. Vagueio com um rumo que não conheço. Procuro um amigo que não existe. Sob pena de estar bêbedo o suficiente, bebo o que resta da cachaça e da vodka e lá vão as garrafas, que já estava farto de ter as mãos ocupadas. Paro de novo, noutro sítio, para beber outro café, e acordar um pouco mais para o mundo e adormecer-me um pouco mais, para a realidade de mim. Deambulo mais um pouco. É tão de manhã que ainda a cidade exala pureza. Ainda só os mendigos andam pelas ruas. Eu e os mendigos. Eu também sou um mendigo. Só não estendo a mão por uma moeda, mas sim por um pouco de afecto, um pequeno gesto. Os amigos invento-os eu. Ela não veio. Quase me esqueci de existir. São nove da manhã e o melhor que as pastelarias têm para beber é leite e Ballantines. Prefiro o leite, não sou esquisito com a marca. Bebo o leite, palpo a caveira. Durante algum tempo fico obcecado pelo mar e espero pacientemente que ele me traga o que quer que seja que preciso. Não trouxe. Os lábios ardem do cieiro, ardem insuportávelmente, mas o ardor dos lábios nem se assemelha ao ardor por dentro que nem sei bem onde é. "a dor de não saber aonde doi". Incrivelmente, parece-se com a felicidade.
Tu sabes que eu gosto de ler o que escreves, mas dá-me um arrepio só de pensar que os teus textos são auto-biográficos!!!... Mas que textos mais deprimentes os nossos, meu amigo... Bora publicá-los?? ;o) Era a receita ideal para uma depressão colectiva, os psiquiatras iam agradecer-nos a clientela!! ;o)
Cuida de ti, Ruizinho e tem juízo, sim??
Um abraço
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Nastenka |
11:06 da tarde
Autobiográfico? Isto é tudo inventado pá. Eu sou um palhaço ("palha d'aço" lol). Não te preocupes comigo que eu também não =P. Beijinho.
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vxcvxvc |
11:10 da tarde
Não são??? Baah... Ainda és mais esquizofrenico do que o que eu pensava!!! ;o)
Fico mais tranquila, beijinhos
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Nastenka |
10:01 da tarde
Fica fica. É melhor... =P
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vxcvxvc |
1:48 da manhã