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Diário de um "Antropólogo em Marte" (III)

Os olhos estão mais uma vez inchados... Consigo ocultá-los com um sorriso...
O pânico da diferença violou de novo a noite, a dor de sempre e o medo da prisão nesta mente alastrou pelo meu corpo e só o sono, esse eterno aliado, me restituiu a paz nesta manhã...
É certo que não me ouvem e que mesmo ouvindo, não saberiam... É certo que estou só, e já não me questiono pela cumplicidade, essa ilusão sombria...
A solidão, como de resto se apercebem todos os que pensam e se sentem e fogem de si mesmos, condensa em si uma serenidade que só a custo nos parece urgente, mas é assim mesmo, mortifica-nos, mas apressa-se em reatar em nós o equilíbrio adormecido...
Eu preciso dela, mesmo gritando por alguém que nunca escuta(rá), é em mim mesma que descubro todos os recursos para me esconder e ressurgir, como uma concha que se abre e fecha, sempre com medo do que encontrará pelo mundo.
Está frio! Ouço dizer que neva aqui e ali... Mas ninguém me diz que neva junto a mim... Neva aqui e é tão bela a cor e a textura e todo este frio que mal dou por mim, apenas vivo, ou diria antes que sobrevivo... Mas a neve sempre foi bela e às custas dela renovo-me e como me sinto só, crio até imagens e poemas e estradas por onde nunca irei, mas esboço o caminho, se alguém quiser seguir por aí... Eu não vou por aí, como dizia o poeta, tenho medo e pesa-me a diferença como um erro... A diferença num qualquer processamento que não sei, mas que teimo em omitir...
Visto em casa e em todo o lado por onde quer que vá, este invólucro comum, e com ele enfrento o mundo... E valem-me as palavras secretas que fermento e que expulso sem medo, desde que quem me vê nunca saiba de onde é que as invento...

É, toda a gente sente isso. Ser estranho afinal é a coisa mais vulgar que pode existir.
Ema

É verdade, Ema... Um abraço

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