« Home | Segredo » | Um imenso vazio »

Noite de Afago

«Tanta ternura que havia para dar-te
assim perdida nas brumas da penumbra
hoje são muros o que tenho por planeta
silêncios o que obtenho
e tão espaçados
valia mais nunca ter havido alento
nem esperança
nem momentos alcançados

porque dás hoje e me negas amanhã
porque luziu em teus olhos
tal vontade
se ao fim e ao cabo tudo me confirma
que partiste e está tudo por dizer
partiste e fica tudo consumado
como se nunca tivesse havido dia
e a noite fosse noite
e não afago

quando é assim valia mais partir
ou nunca começar
nunca saber
valia mais nunca te ter visto sorrir
para ter mais força de acabar este bailado
e o grito que já fomos não cair
na sarjeta do sonho confiscado

como se nunca tivesse havido dia
e a noite fosse noite
só noite
sempre noite
e não afago»

(Pedro Barroso)